domingo, 25 de março de 2012

ELOGIO AO DESEJO





Quero o silêncio das noites sem verbo
Saudar a brisa que beija o meu rosto
Relembrar a avidez das bocas famintas
Quero antever o destino das pedras
Rolar um abrigo para as engolir
Desproteger este frio calabouço
Quero entranhar a melodia afável
Sacralizar o teu rastro na estrada
A voz entoar a cantiga de um louco

Quero luzir a manhã com um grito patético,
Libertar o propósito da idéia pensada
Meu corpo, no lençol da alcova roçar
Quero os canteiros saltando em flores
A livre harmonia que esquenta o meu peito
A conversa mascada confiando um olhar
Quero a altivez da dignidade
Saborear o ópio do arbusto
Na certeza de um dia poder desmentir 
Quero rasgar o vestido da amada
Prometo acampar a cabana de outrora
Brincar de sussurros pro dia dormir

Quero a alegria das indigentes tavernas
O sorriso contínuo contornando os lábios
A oração afinada da bailarina 
Quero dissecar o falaz inaudito
Divinizar o momento perene
E transitar na calçada vazia
Quero o espanto dos olhos da criança
Respirar o verniz da saudade das cores
E ressurgir do veneno à vida



NOTA DO AUTOR:

Poema em versos livres de minha autoria classificado, na fase municipal, para representar Barra Bonita no Projeto "Mapa Cultural Paulista", do Governo do Estado de São Paulo, no ano de 2000.
Reeditá-lo 12 anos depois significa para mim um novo ponto de partida na releitura da expressão literária como forma de reencontro com a linguagem poética.
Nas próximas postagens publicarei outros escritos selecionados e classificados em uma coletânea que intitulei como "Fino Extrato", essência da minha produção literária à época, como uma forma de atualizar o seu conteúdo.