“Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas dize somente
uma palavra e o meu criado há de sarar...”
(Mateus 8; 5-13)
O encontro do centurião romano com Jesus é exemplo genuíno de fé e
humildade.
Jesus
estava em Cafarnaum, cidade a noroeste do mar da Galiléia, na região de Zabulon
e Naftali. Era um centro pesqueiro e de cobrança de impostos. Foi para
Cafarnaum que Jesus se mudou, vindo de Nazaré, no começo de seu ministério
público. E nela centralizou suas atividades. Próxima à foz do Rio Jordão, onde
João Batista ensinava, convidando o povo ao arrependimento dos seus erros.
Como
Cafarnaum ficava na rota comercial que ia da cidade de Damasco ao Mar Mediterrâneo,
com grande movimentação de pessoas, devido a importância da cidade, o governo
de Roma tinha por lá uma milícia composta por cem soldados, sob a direção de um
comandante.
Centurião
–
este era o título dado ao comandante da milícia, exatamente por comandar cem
soldados.
Relembremos
os fatos: Jesus entrou na cidade de Cafarnaum, e de pronto, o centurião abordou
o Mestre. Contou que o seu criado estava em casa, paralítico e que sofria
horrivelmente. Estas são as informações que, de imediato, o centurião
verbalizou ao Médico das almas.
O
que disse Jesus? Sem rodeios, afirmou: “Eu irei curá-lo”.
Conhece,
caro leitor (a), algum médico que sem ver o doente, sem examiná-lo, sem
perguntar sobre os sintomas, afirma categoricamente, e à distância: “Eu irei
curá-lo”?!
É
formidável a presença de espírito de Jesus! A sua autoridade e dignidade
espiritual.
Um
médico humano, falível diria: “Eu irei tratá-lo”, mas não afirmaria a cura de
antemão. É evidente que Jesus conhecendo profundamente os homens, percebera no
centurião a sua predisposição à fé. Sabia que uma autoridade romana não iria se
dirigir a um rabi popular, se não fosse um homem diferenciado.
A
nobreza do centurião se confirma quando externa uma das mais belas frases dos
evangelhos: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas dize somente
uma palavra e meu criado há de sarar”. Que fé extraordinária possuía
este homem! Que lição de humildade nos deixou!
Quantos
de nós, em nossas aflições, pedimos, inadvertidamente, auxílio de Deus para
todo e qualquer percalço que venha a surgir em nosso caminho. O centurião não
pediu para si mesmo. Pedia por seu criado. Reconhecia sua imperfeição. Sabia
não ser digno de um Espírito puro como Jesus, porém, não clama pela presença do
Mestre. O centurião pede uma palavra de Jesus, crendo que isto seria o
suficiente para a cura.
Tão
expressiva foi a admiração de Jesus frente ao pedido do centurião, que
exclamou: “Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”.
O
centurião dissera antes a Jesus que também estava sujeito à autoridade. Sim, o
centurião estava sob as ordens do governador de Roma. No entanto, ele diz “também”.
Reconhece que Jesus também era um preposto. Porém, o preponente do centurião era
uma autoridade humana, falível e transitória. Enquanto que Jesus representava a
autoridade do Criador, Deus, sendo a sua, uma autoridade divina.
Quantos
poderosos entre os homens reconhecem esta distinção?
É
lógico pensar que antes de procurar Jesus, o centurião tenha buscado o auxílio
dos médicos. Sendo uma autoridade com recursos, e muito estimando o seu criado,
tenha procurado tratá-lo, medicá-lo, assisti-lo. O que surpreende é a confiança
do centurião. Certamente já ouvira falar sobre aquele Rabi que curava
enfermidades e ensinava sobre um estranho reino dos céus. Entretanto, indo ao
encontro do Mestre, e ao ouvir Jesus dizer prontamente que iria curar o seu
criado, o centurião avaliza a promessa de cura do Cristo, e em
expressiva manifestação de fé, pede apenas uma palavra.
A
palavra pedida pelo centurião materializa-se na frase final de Jesus: “Vai-te,
e como creste, assim te seja feito”.
Tal
qual o centurião que possuía sob as suas ordens, muitos soldados, e que quando
precisava que se cumprisse a sua vontade, apenas acionava o seu regimento;
Jesus era assessorado por sua legião de Espíritos santificados, anjos
tuletares, que sob as suas ordens, executavam os seus pedidos. E pela ação
magnética dos benfeitores espirituais: “... naquela mesma hora sarou o seu criado”.
A
finalidade do encontro de Jesus com o centurião foi exemplificar para a
posteridade humana a eficácia da fé, quando há perfeita sintonia entre a
humilde de quem pede e autoridade espiritual de quem concede.
Pela
primeira vez na história um avalista da promessa (o centurião) teria no
avalizado (Jesus) um credor. Sendo esta não uma contrapartida negocial,
monetária, mas uma síntese da integração da fé humana com a fé divina.