“... semelhante a um tesouro que, oculto no campo, foi achado e escondido
por um homem...”.
(Mateus, 13; 44.)
A parábola do tesouro ensina a
localizar a verdadeira riqueza do homem.
Agostinho,
o Bispo de Hipona, reflete há horas. Caminha de um canto ao outro de seus
aposentos, pàra por um instante diante da janela, ausculta o silêncio da cidade
africana, e pensa consigo: “Deus está no homem, e este em Deus?”
Toma
da pena, senta- se e escreve tomado pelo ímpeto da resposta:
“... Será, talvez, pelo fato de
nada do que existe sem Ti, que todas as coisas te contêm? E, assim, se existo,
que motivo pode haver para te pedir que venhas a mim, já que não existiria se
em mim não habitásseis?
Ainda não estive no inferno, mas
também ali estás presente, pois, se descer ao inferno, ali estarás.
Eu nada seria, meu Deus, nada seria
em absoluto se não estivesses em mim; talvez seria melhor dizer que eu não
existiria de modo algum se não estivesse em ti, de quem, por quem e em quem existem
todas as coisas? Assim é, Senhor, assim é. Como, pois, posso chamar-te se já
estou em ti, ou de onde hás de vir a mim, ou a que parte do céu ou da terra me
hei de recolher, para que ali venha a mim o meu Deus, ele que disse: Eu encho o
céu e a terra?”(Santo Agostinho - Confissões, Parte I, Livro I, Capítulo 2).
Deus
fala ao homem em sua consciência.
O
evangelista Mateus anota a parábola do tesouro contada por Jesus para instruir
o homem que caminha de forma distraída, despreocupada, pelas vielas do mundo.
Uma
aparente casualidade parece acompanhar o homem que encontra oculto no campo, um
tesouro. O homem achou o tesouro, mas o escondeu. Feliz com a descoberta vendeu
tudo o que possuía e comprou aquele campo.
Intrigante
sequência:
Tesouro:
oculto, achado e escondido.
Oculto:
não visível, e assim permanece até que alguém o descubra.
Achado:
Descoberto torna-se visível, identificável. Agora é possível avaliá-lo.
Escondido:
Volta a estar oculto às vistas alheias, mas o seu descobridor conhece onde está.
Para ele não está mais oculto, invisível, pois sabe localizá-lo e reconhece o
seu valor.
O
Reino dos Ceús é semelhante a um tesouro...
Em
nossas trocas mercantis somos instigados a adquirir o objeto das nossas
necessidades. Com os valores do espírito o chamado excede a necessidade
externa, por ter sua origem em raízes internas profundas.
Embora
não procurasse o tesouro oculto no campo, o homem quando o achou, de imediato
com ele se identificou. E tamanha foi a sua alegria que não hesitou. Vendeu
tudo o que possuía (mas, não lhe pertencia), e comprou (tomou pra si) aquele
campo.
Perceba
leitor que homem achou o tesouro em um campo que não era seu. E só o reconheceu
como um tesouro por saber o seu valor. Por isto, tornou, por zelo, a
escondê-lo. Poderia ter comprado somente o tesouro, ou tê-lo levado consigo sem
que ninguém o soubesse (pensariam os furtadores, que desejam colher onde não
semearam), mas não o fez. Comprou o campo e com ele o seu tesouro.
Razão,
sentimento e consciência: esta é a tríade que move as ações humanas.
A
razão nos sugere pensar, raciocinar em bases claras, lógicas, com fundamentos.
O
sentimento nos sugere sentir com intensidade e entrega sem condicionamentos.
A
consciência pondera entre o pensar e o sentir, e nos faz intuir a sabedoria que
vem do alto. É de fato, Deus conosco.
Por
vezes, a razão equivoca-se e o sentimento se desvirtua, mas a consciência
permanece intacta, pois emana do Criador e faz eco em nossa mente.
Basta
ouvir a consciência: tesouro oculto (descoberto) no campo do nosso pensamento.