domingo, 26 de maio de 2013

JUSTIÇA E MÉRITO




“... este é o herdeiro; vinde, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança: e, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? (...)”.
 (Mateus, 21; 33-42.) – (Marcos, 12; 1-9) – (Lucas, 20, 9-16).
 
A parábola dos rendeiros infiéis equaliza a justiça e o mérito perante as leis divinas.

O proprietário ladeou com uma cerca a sua vinha, cavou no terreno um tanque para reduzir a líquido o fruto, e edificou uma torre para zelar sob a sua herdade.

Terras, parreiras, tanques, tonéis... tudo cuidadosamente preparado para a fabricação do vinho.

Mas, o proprietário teve que ausentar-se. Foi necessário arrendar a propriedade a uns lavradores.

Contrato devidamente redigido, selado, registrado na presença das nomeadas testemunhas. No tempo da colheita, viriam os mandatários do proprietário receber a parte que lhe cabia dos frutos da vinha, o produto do arrendamento.

No entanto, os lavradores eram maus. Os rendeiros, infiéis ao contrato.

Ao invés de entregarem o produto combinado, agarraram os emissários do dono da vinha. Feriram um, apedrejaram outro e mataram o seguinte.

Colheita após colheita, a história se repetiu. A esperança do dono da vinha para receber o que fora combinado, repousou sobre o seu próprio Filho, entendendo que os rendeiros infiéis o respeitariam. Delegou poderes ao Filho, e o enviou para a herdade.

Porém, os lavradores maus combinaram e deliberam entre si matar também o Filho do dono da vinha, desejando a sua herança. E assim o fizeram: levaram-no para fora da vinha e o mataram.

O que restou de alternativa ao dono da vinha?

A justiça e o mérito. Coexistem, e deles derivam toda a aplicação das causas e dos efeitos no mundo das ideias e das formas.

Somente o “Dono da Vinha”, pode julgá-los com a precisa imparcialidade que a decisão comporta.

Uma coisa, no entanto, é certa. O produto do arrendamento deve, e será entregue. E não serão os maus lavradores, os rendeiros infiéis que o farão. Suas mãos são inoperantes e seus pensamentos corrompidos.

O Senhor da Vinha contrata novos lavradores, rendeiros dignos e fiéis.

Respeitam o contrato. Zelam pela herdade. São diligentes no trabalho, e afeiçoados ao produto da vinha.

“Tragam-me bom vinho!” – clama o dono da herdade.

A justiça pondera tratando as dessemelhanças com igualdade.

O mérito é o resultado da oportunidade ofertada e bem aproveitada.

Uma traz equilíbrio. O outro agracia a fé e a obra.

domingo, 19 de maio de 2013

PRECEDAM-NOS, PUBLICANOS E MERETRIZES!





“(...) Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele respondeu: Irei, senhor; e não foi. E chegando ao segundo, disse-lhe o mesmo. Porém, este respondeu: Não quero; mais tarde, tocado de arrependimento, foi. (...)”.

 (Mateus, 21; 28-31.)
 

A parábola dos dois filhos reflete em torno do que se fala e do que se faz.



“Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha”.

“Irei; e não foi”.

“Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha”.

“Não quero; mais tarde... foi”.

 

Entre o que se fala e o que se faz há a intenção.

Quem fala e não faz anseia por reconhecimento.

Quem não fala, mas faz deseja liberdade.

O reconhecimento é conveniência humana.

A liberdade é lei divina.

Mover-se pelo reconhecimento denota vaidade.

Temer privar-se de liberdade revela hombridade.

Quem fala e não faz adultera o pensamento.

Quem não fala, mas faz enobrece a ação.

 

“Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha”.

“Irei; e não foi”.

“Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha”.

“Não quero; mais tarde... foi”.

 

Precedam- nos, publicanos e meretrizes!

Pois, há mais honra na marginália convertida do que na erudição dissimulada.                 

Entretempos... o aceite não é labor e a recusa não é impedimento.

A vinha recruta os seus trabalhadores...

O primeiro filho promete, mas não faz. Desertou sem obrar.

O segundo filho recusa, mas se dispõe. Arrependeu-se para obrar.

Qual dos dois fez a vontade do Pai?

domingo, 12 de maio de 2013

FOLHA OU FRUTO?






“(...) E vendo uma figueira a beira do caminho, dela se aproximou, e não achou nela senão folhas; e disse-lhe: Nunca, jamais nasça de ti frutos, no mesmo instante secou a figueira...”.
 (Mateus, 21; 18-22.) – (Lucas, 13; 6-9)
 
A parábola da figueira estéril é um alerta contra as ilusões da aparência.
 

Tenho fome...
Dá-me de comer!
A figueira à beira do caminho é esperança de provimento.
Tenho fome...
Dá-me de comer!
No entanto, na figueira há somente folhas. Nem um único fruto?!
Figueira estéril... Anomalia vegetal!
Permaneço com fome.
E se ao invés de frutos procurasse palavras?
Alimentar o corpo com a seiva do espírito.
Há palavras na figueira para prover a alma?
Não... a figueira é estéril!
Figueira sem palavras... Anomalia humana!
Sem frutos, sem palavras... apenas folhas.
Folhas: órgãos apendiculares, de variadas formas, geralmente planas e de cor verde, se desenvolvem no caule e nos ramos das plantas.
Tem a folha a sua função...
Permite que a planta transpire, realiza trocas gasosas e capta a luz solar.
Foto sintetiza...
Libera oxigênio.
Tem a folha a sua função...
Mas, a folha não alimenta!
E, ainda tenho fome...
Dá-me de comer!
Tivesse a figueira fruto...
Deriva-se do ovário das flores. Protegem a semente em desenvolvimento.
E o fruto, este sim... alimenta!
Figueira estéril, figueira sem frutos.
“Nunca, jamais nasça de ti frutos,
no mesmo instante secou a figueira”.
Como pode secar a figueira repentinamente?
Onde há fé não há dúvida.
Pedi e recebereis.
A folha embeleza, ornamenta, faz vista aos olhos. Mas... não alimenta!
Simboliza a figueira a esterilidade, a ausência da obra, sem a qual a árvore (vegetal ou homem) perde finalidade. E sem finalidade os meios perdem sentido.
E sem sentido...
Aguarda-a o fogo da expiação e da prova!
Só no amor e com o amor damos frutos duradouros que saciam a fome de ser.
E ser é o que se quer. Ser o que se é.
Fora isto... figueira estéril!
Só folhas... sem frutos.



 

SALÁRIO E TRABALHO




“(...) Meu amigo, não te faço injustiça; não ajustaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te embora, pois quero dar a este último tanto como a ti. Não me é lícito fazer o que me apraz do que é meu? Acaso o teu olho é mau, porque eu sou bom?...”.
 (Mateus, 20; 1-16.)
 

A parábola dos trabalhadores da vinha ressalta a qualidade da obra e do obreiro.
 
Se é verdade que o trabalhador tem direito ao seu salário somente após ter executado o serviço para o qual foi contratado, não é menos verdade, que antes de iniciar o serviço, o trabalhador ajusta com o seu contratante a sua remuneração. E foi esta a intenção do proprietário que saiu a assalariar trabalhadores para a sua vinha.
O proprietário saiu pela madrugada, pela hora terceira, sexta, nona e pela undécima hora. Ajustou um denário, encontrou desocupados – prometeu o justo, e houve quem alegasse que permanecia o dia todo sem ocupação porque ninguém o assalariou.
Após um dia de trabalho, à tarde, o dono da vinha pede ao seu administrador que chamasse os trabalhadores para pagar-lhes o salário previamente ajustado.
Cumpriria o combinado. Mas, inverteria a ordem do pagamento para transmitir aos trabalhadores não apenas o salário, mas o sentido do trabalho. Pede ao administrador para começar o pagamento pelos últimos a colaborarem na vinha: os trabalhadores da undécima hora.
E da mesma forma que havia ajustado com os trabalhadores da madrugada, que iniciaram os trabalhos na vinha, pagou também aos da undécima hora que chegaram por último, um denário.
Previsível era a reação dos primeiros trabalhadores, que iniciaram seu labor pela madrugada. Reclamaram, murmuraram contra o proprietário alegando que suportaram o peso do dia e do calor extremo! E receberiam o mesmo que àqueles últimos que trabalharam somente uma hora! Queriam os primeiros receber mais do que o ajustado...
Assalariados versus obreiros – Quantidade versus qualidade!
Porque e por quem trabalho?
Qual é o fruto da minha cooperação?
O mercenário anseia pelo salário. O obreiro zela pela obra.
Todo obreiro é trabalhador, mas nem todo trabalhador é obreiro.
O obreiro se distingue pela constância, pelo desinteresse pela boa vontade e pelo esforço. Não estão apenas compromissados com o trabalho, estão comprometidos.
Todo trabalhador merece o seu salário, porém nem todo trabalhador está à altura da obra.
Indignados os assalariados reclamam, pois se crêem injustiçados. Querem mais por menos. Os obreiros são pagos pelo valor ajustado, pois justa é a medida do obreiro. Faz mais ainda que seja por menos.  A sua paga está além do salário.
O proprietário ensina: “Toma o que é teu e vai-te embora, pois quero dar a este último tanto quanto a ti”.
Quem julgará o proprietário?
Quem contrata se interessa em avaliar a qualidade do serviço que recebe.
A quantidade é montante. Pode se equiparar somente, a um amontoado de horas ocupadas.
“Não me é lícito fazer o que me apraz do que é meu?” – questiona o proprietário da vinha.
“Acaso o teu olho é mau, porque eu sou bom?” – perquire o contratante.
 
Salário e trabalho: conjugam-se com a obra e o obreiro.
Quanto vale nosso labor na undécima hora?