“(...) Então, o senhor chamando-o, disse-lhe: servo malvado, eu te
perdoei toda aquela dívida, porque me pediste: não devias tu também ter
compaixão do teu companheiro, como eu tive de ti?...”.
(Mateus, 18; 21-35.)
A
parábola do credor incompassivo é um chamado permanente ao perdão.
Um
rei resolveu ajustar contas com os seus servos...
Os
que mais devem são os primeiros a serem chamados.
-
Paga o que me deve! – impõe o rei.
-
Mas, não tenho com o que pagar! – lamenta o servo.
-
Venda-se, pois, o servo, sua mulher, seus filhos e tudo o que possuí, até
quitar a dívida – sentencia o rei.
O
servo é atingido em suas mais caras afeições...
O
servo implora paciência ao rei. O servo promete pagar o que deve.
O
rei teve compaixão do servo. Perdoou-lhe a dívida, e o deixou partir.
Ah,
impenitente natureza humana! Bastou sair
da presença do rei, e o servo, ao encontrar um de seus companheiros, que lhe
devia certa quantia, segurou-o, o sufocou, cobrando energicamente: “Paga o que
me deve!”
O
conservo implorava paciência ao cobrador que não o atendeu. Mandou-o à prisão
até que pagasse toda dívida.
Quão
cerradas são as prisões humanas!
Cadeias
sem trinco, de muros altos: sem água, alimento ou oportunidade de defesa.
Porém,
o servo fora atentamente observado. Outros companheiros viram o seu
procedimento para com o conservo. Sabiam que o ingrato servo fora perdoado de
sua dívida, mas não tivera compaixão do seu próximo.
Os
companheiros ficaram muitíssimo tristes. Como entristecemos os anjos do céu com
a nossa indiferença e teimosia...
Os
companheiros contaram o ocorrido ao rei. Como o servo ingrato fora duro de
coração para com o conservo, lançando-o à prisão sem piedade por não pagar-lhe,
de imediato, a dívida.
O
rei irou-se. Deu um basta! Chamou o servo novamente a sua presença.
Novo
acerto de contas...
Disse
o rei: “Servo malvado, eu te perdoei toda aquela dívida, porque me pediste: não
devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive de ti?”
O
rei entregou o servo ingrato aos seus verdugos até que pagasse tudo o que
devia.
Para
quem deve muito pagar tudo o que deve pode levar muito tempo.
Como
outrora, o rei resolveu ajustar contas com os seus servos...
Quanto
devemos ao rei?
Quantas
vezes o pagamento foi adiado?
Fizemos
provisão para quitar a dívida?
Talvez,
não tenhamos que ouvir estas perguntas e nem respondê-las. Pode ser que a única
pergunta que nos seja feita, e cuja resposta o rei já conhece seja esta:
-
Perdoou o seu irmão?
Somos
Pedro a perguntar a Jesus: “... quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que
lhe hei de perdoar? Será sete vezes?”
E
a lógica aritmética de Jesus nos desconcerta: “Não te digo até sete vezes, mas até
setenta vezes sete vezes”.
É
tempo de moratória...
O
rei ajusta suas contas com seus servos. Não pede a divisa material para repor o
que fora emprestado. O rei nos pede dádivas do coração. A quitação dos
sentimentos.
Se
optarmos pela prisão: “Assim meu Pai Celestial vos fará, se cada um de vós do
íntimo do coração não perdoar a seu irmão”.
A
palavra do nosso tempo é um eco que vem da longínqua Galiléia: Perdão.
É
tempo de moratória...
É
tempo de reconciliação.