domingo, 28 de outubro de 2012

LETÍCIA







Era uma sombra
 
Era uma sombra sorrateira
 
Cobria em manto meus desejos
 
Não era luz. Era sombra.
 
 
 
Delituosa,
 
rodeava lépida meu jardim

Não era luz.

Era sombra.



Licenciosa,

aconchegava-me nos dias de calor

Não era luz.

Era sombra.



Assim, deitada na relva...

Como dediquei-me a este imprevisto!

Voraz, um beijo

Um beijo...



Não era luz.

Era sombra.

Um veraneio de perfume róseo

Fêmea em luz: sombra em poente




NOTA DO AUTOR:


O nome próprio "Letícia" tem sua origem no Latim "Laetitia", e significa "alegria", "felicidade".
 
Com esta conotação de adjetivo o título do texto deve ser compreendido.
 
A presença da "sombra": sorrateira, delituosa, lépida, licenciosa, voraz não insinua ocultação, ou negativa influência, mas, ao contrário, indica uma solar proteção, aconchego, agradável estadia, descanso, repouso sem amarras, culpabilidade ou autopunição.
 
Não era "luz", pois não trata-se de uma revelação. A "sombra" é um salutar imprevisto.
 
A figura feminina associada ao texto projeta a intenção de vida exuberante, bela, atraente e exultante.


domingo, 21 de outubro de 2012

CÂNTICO MANIFESTO







"Digno - tornou-se torpe.
Altivo - sentiu-se nefasto.
Nobre - fez-se biltre.
 
Burilam os arautos o verbo,
carece nova direção"
 
 
 
 
Tão vil quanto o ímpio
a miragem cegou olhares
Contempla seu fascínio,
lança o arpão aos mares
 
 
Fisga incrédulos,
vãos confrades
Esperam séculos,
em liberdade
 
 
Ardil paira,
sombra em vista
Cultiva seara:
flor e conquista
 
 
Sorvem o cálice,
rasgam véus
Violam mausoléus,
descobertos abrem-se
 
 
Fecundam às noites,
trêmula bandeira
Castram-se açoites,
manhã clareia...
 
 
 
 
NOTA DO AUTOR:
 
 
A liberdade imantada ao determinismo.
 
Opondo-se ao ilusório sentido da liberalidade sem restrição, o texto sugere a seguinte reflexão:
 
Livre arbítrio e determinismo coexistem?
 
A resposta afirmativa repousa no argumento de que toda ação é causa, e livre escolha. Ao mesmo tempo, a escolha determina o efeito e suas consequências.
 
Conquistamos parcelas gradativas de liberdade à medida que reeducamos nossa mente para a ação responsável.
 
Quando não há desprendimento nos tornamos cativos.  

domingo, 14 de outubro de 2012

BENJAMIM
























Voltou meu filho

Neste dia doei 

o que de mais nobre possuía: afeto

A roupa maltrapilha,

os lábios secos,

o olhar arrependido



Voltou meu filho

Com o manto

cobri sua penúria

Com os braços

protegi seu medo

Com os olhos ofereci refúgio



Voltou meu filho

Ao pródigo não louvei em festa

Afaguei a dor

e renunciei ao patriarca

O apreço anunciava coração fraterno,

pois éramos somente um na tarde fidalga




NOTA DO AUTOR:


Benjamim: o filho preferido ou o mais moço.

A paternidade e a filiação exposta além dos vínculos corporais...

A adesão humana à afinidade espontânea, natural.

A irmandade que nos faz tão semelhantes e tão desiguais...

O Pai Criador engendra no poente o homem do amanhã.









domingo, 7 de outubro de 2012

CLARA E FRANCISCO



 
 
Fotografia: Do filme "Irmão sol, irmã lua", do diretor Franco Zefirelli



Fulgura o sol a estrada de um santo

Irmã lua, homenageia sua auréola

Transporta seu brilho sobre os montes

Alverne - pleno palácio da luz



Cantam os pássaros, sobrevoam colinas,

saúdam o cavaleiro da humildade

São louvores entoados...

A dama pobreza esposada, sorri altaneira



"- Quando florirem as flores voltarei a vê-la"

Clara, claridade

A caridade dignifica a dor

Reflete na Terra o céu em paisagem



O apóstolo-renúncia sublima o amor,

com a lucidez de um arauto divino

Badala um sino... anuncia a mensagem:

Caminho que leva a verdade e enaltece a vida - paz e fraternidade




NOTA DO AUTOR:


Texto em homenagem a Clara e Francisco de Assis.
 
Clara chamava-se Chiara d'Offreducci. Nasceu em Assis (Itália), em 16 de julho de 1194, e faleceu na mesma cidade de Assis, em 11 de agosto de 1253. Foi a fundadora da ramo feminino da ordem franciscana.
 
Francisco chamava-se Giovanni di Pietro di Bernardone. Nasceu na cidade de Assis (Itália), em 05 de julho de 1182, e faleceu na Porciúncula em 03 de outubro de 1226, tendo sua festa litúrgica, em 04 de outubro. Fundador da ordem franciscana.
 
Exemplos reais de genuína espiritualidade, respeito às criaturas e à criação, em perfeita sintonia com a filosofia cristã.