Esguia-se sobre a terra.
Busca veredas e puros perfumes
Transita arredio e irreal
Captam suas antenas um pulsar astuto,
figura cor em flor de outono
Rasteja esquálido, rastreando o jardim
Encontra a pétala em fogo
Volta-se ao mar, seu formal reduto
Porém, não deseja a brisa;
arde descobrir a térrea firmeza
Descortina a carapaça,
Desnuda segredos,
Perfaz o rastro
No vaso, em brasa,
a pétala convida seu errante
Sauda a manhã,
Entorpece as cores,
Degusta a pétala,
Queima receios:
- O mar e a terra invadiram-se sem culpa...
NOTA DO AUTOR:
O caramujo-gigante é oriundo da África. Seu nome biológico é Achatina fulica. Este molusco pode pesar 200 gramas e medir cerca de 10 centímetros de comprimento por 20 centímetros de altura.
Sua concha é de cor escura, com manchas claras, alongada e cônica. Foi introduzido ilegalmente no Brasil na década de 80, no Paraná, para substituir o escargot. Como não foi bem aceito entre os consumidores, e proibido pelo IBAMA, muitos dos seus criadores, displicentemente, liberaram os caramujos na Natureza.
Para a sua manipulação é necessário o uso de luvas ou sacolas plásticas, e cozê-lo antes de comer a sua carne.
Sem predadores naturais e com procriação rápida, sendo um único caramujo capaz de procriar até 300 crias por ano, este caramujo alimenta-se vorazmente de qualquer tipo de vegetação. É também hospedeiro de duas espécies de vermes que podem causar doenças intestinais e encefálicas.
Por outro lado, alguns pesquisadores ressaltam o potencial desta espécie de caramujo para o desenvolvimento de produtos cosméticos e fármacos, que podem combater a leishmaniose. Se bem preparados, para alimentação, possuem alto valor de proteína.
Estas informações são da bióloga Mariana Araguaia, especialista em Educação Ambiental, e membro da equipe do "Brasil Escola".
Sob o ponto de vista do texto literário, o caramujo representa o indesejado, o rejeitado, o anômalo.
A flor, sua pétala, significa a singela, delicada e desejada beleza - atrativa e bem aceita.
O encontro de ambos aponta para a possível reconciliação, presente na Natureza, entre polos que se encontram para recriar a vida, em novos estágios de evolução, outrora desconhecidos.
Entre o anômalo e o aceitável há o inominável.