domingo, 27 de janeiro de 2013

ANUNCIAÇÃO

 
“Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.” (Lucas 1; 38)
 
*Citações textuais: “Poema do Menino Jesus”, do escritor português Fernando Pessoa (1888 – 1935).
 
 
 
 
* “Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez menino, a correr e a rolar-se pela erva. A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu...” 
Faço um pedido ao leitor. Imagine que o menino Jesus veio visitá-lo, hoje.
Esteja você, neste momento, em sua casa, no trabalho, no automóvel, em uma fila ou sala de espera, não importa. Pense que o menino Jesus lhe faz companhia.
O que diria a ele? Trataria-o como a uma criança?  Ressaltaria a sua formosura? Incentivaria suas travessuras?
Eu, também, imagino a visita do menino.
Talvez fizesse perguntas. Estaria ansioso por suas respostas. Mas, ansiar respostas de uma criança? (Ora, os adultos é que devem guiar as crianças... Será?)
Observaria sobretudo os gestos...
 
* “A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.” 
Com o menino Jesus ao meu lado descobri que o Natal não é uma data fixa no calendário anual a indicar a necessidade de presentes e festividades. Descobri que não há presente e festa mais importante do que este encontro. Eu e o menino Jesus.
Ao encontrá-lo, me senti também criança. Pois, ele não me falava por meio de parábolas, não sentenciava leis divinas. O menino com graciosidade me convidava para apreciar a vida, a vida ao redor. Não me falava da vida futura. Nem relembrava o passado ausente. O menino sugeria a celebração da vida presente.
Não importava aflições, sofrimentos, angústias. O sorriso do menino me consolava, e a sua presença me fazia sorrir, sem pressa, sem desconfiança, sem temor...
 
* “Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de perna pro ar, põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho, sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança; o menor, pega-me tu ao colo, leva-me para dentro da tua casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu tornar a adormecer, e dá-me sonhos teus para eu brincar.” 
Desejo ao leitor que o menino Jesus vá visitá-lo. A mim, a sua presença tornou-se, desde então, imprescindível.
Quero repousar em sua nuvem, brincar em sua estrela, e viajar em seu raio solar.
Quero o Natal, nascimento, a perdurar o ano inteiro.   
 
Renasço, com Jesus menino...
 
(Crônica publicada originariamente no Boletim GEBEM - Grupo Espírita Dr. Bezerra de Menezes, de Barra Bonita - SP, em dezembro/2012.)

domingo, 20 de janeiro de 2013

MARÉ CHEIA

manhã, maré
 
 
 
 
Sinto a cada pingo
 
um eco cá dentro
 
Tenho estranho fascínio
 
pela solitude
 
e cultivo a tristeza como quem rega rosas
 
 
Sinto a cada pingo
 
o chão lentamente se abrindo
 
um pranto rasgado de tudo o que não foi
 
A chuva mastiga o som em estalos
 
Faz sinfonia no sítio de meu exílio
 
 
Sinto a cada pingo
 
o acúmulo derramar lama na estrada
 
formando pequena lagoa
 
em frente a varanda de minha casa
 
 
Sinto a cada pingo
 
que o pingo virou enxurrada
 
e deságua neste janeiro molhado e sem graça:
 
- Maré cheia sem fim!
 
 
 
NOTA DO AUTOR:
 
A contemplação como um recurso retrospectivo de reflexão.
 
Há uma promessa de estio em cada tempestade.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 13 de janeiro de 2013

RETÓRICA ANTI - RACIAL


anti, racismo



O mulato teceu a seda
 
e vestiu porcelana...
 
Quebraram-lhe na primeira esquina.
 
 
Depois pintaram seu retrato
 
na exposição
 
E o chamaram de símbolo nacional.
 
 
O índio indignou-se
 
com o fato
 
de não ser condecorado com a mesma honraria:
 
 
Questão de grave injustiça histórica.



NOTA DO AUTOR:
 
 
Antes da formação de um povo, de uma raça ou de uma nação havia o humano.
 
O humano pré -existe, antecede todo e qualquer rótulo que separe ou pretenda classificar o homem.




domingo, 6 de janeiro de 2013

A DESPEDIDA




solar, aperto mão




o adeus                                     a viagem
 
o amanhecer                             o amor
 
a infância                                  a vida
 
 
 
eu e você                                   a dor
 
 
 
a palavra                                   a faca
 
o gole                                       o trago
 
leve-me                                    ou deixe-me
 
 
a estrada                                   o sol
 
o cálice                                     a celebração 
 
o artigo                                     o substantivo
 
 
o poema                                    o dia
 
a noite                                       a estrela
 
aberta a chaga                           finda o dilema
 
 
 
 
 
NOTA DO AUTOR:
  
 
Partida e chegada são o verso e o reverso de um mesmo caminho.
 
Encontro e despedida são ciclos do espaço/tempo que se anulam no infinito.