domingo, 20 de maio de 2012

MULHER E VIDA






Em frente ao espelho brotam lágrimas
dos olhos da triste mulher: desabafo desmedido
Na beira-mar, a outra espera que às águas tragam consigo,
o saudoso amor, acalentado e querido
A faceira menina escolhe o mais belo vestido
e espera, na sacada da janela, o amor escolhido

No ventre, a moça carrega mais uma vida
a ser lançada livre ao mundo: momento sublime e profundo
Em um escritório, a senhora preocupa-se
com as contas do dia,
e apaga a ponta do cigarro
no cinzeiro da sala vazia

Subindo o morro, Dona Maria,
mesmo cansada, pensa nos quatro filhos,
na janta por fazer e na casa pra arrumar
Faces distintas, interrelacionadas
pela intraduzível alma,
da feminina forma de vida

Desencantos passados, amores presentes,
Dissabores vividos, marcas, feridas...
O inominável mistério da espera,
sentida
Os perfumes, as flores, o passar dos meses...
O interminável jogo dos reveses

Mulher é vida doada
É renúncia desprovida de arrependimento
Bálsamo que desnuda
a aspereza da ingratidão
Mulher: transformadora da rotineira
ironia do dia a dia

Cântaro de múltiplos
e vivazes odores
A casa fortaleza,
por vezes,
frágil realeza:
Escola pro mundo apreender


NOTA DO AUTOR:

A crônica acima é uma homenagem à "...feminina forma de vida", como descreve o texto.
A triste mulher, a outra que espera à beira-mar, a faceira menina, a moça que carrega no ventre uma nova vida, a senhora, em um escritório, com as conta do dia, Dona Maria subindo o morro...são faces distintas, irmanadas e representativas de aspectos que envolvem o perfil desta alma múltipla e intrigante, que se mostra, ao mesmo tempo, imprevisível, autêntica e enigmática; de encantadora singeleza.
De fato, em tempos passados e no presente: "Escola pro mundo apreender".

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