“E disse: Onde o puseste? Disseram-lhe: Senhor vem, e vê. Jesus chorou.
Disseram-lhe, pois os judeus: Vede como o amava”. (João 11; 34-36)
Jesus chorou quando esteve na aldeia de Betânia. Atendendo ao pedido das
irmãs de Lázaro, Maria e Marta, Jesus foi ao encontro do amigo que se
encontrava enfermo.
Lázaro estava enfermo.
Maria e Marta eram as irmãs de Lázaro.
Maria em outra oportunidade ungiu Jesus
com unguento e enxugou os pés do Mestre com os próprios cabelos. Agora Maria
clamava a presença do Rabi para curar o irmão.
Maria e Marta procuraram por Jesus
informando a enfermidade do amigo a quem Jesus amava. Jesus amava aquela
família: Maria, Marta e Lázaro.
Jesus informa as irmãs de Lázaro que
aquela enfermidade não era para a morte do amigo, mas para a glória de Deus, e
para que ele, Jesus, fosse glorificado pela cura de Lázaro.
Jesus, no entanto, não atende de
imediato o pedido de Maria e Marta. Permanece por mais dois dias no lugar onde
estava. Após estes dois dias, Jesus não foi de imediato para Betânia onde
estava Lázaro, enfermo. O Cristo chama os seus discípulos e convoca-os para
retornar para a Judéia.
Da Judéia Jesus e seus discípulos
foram para Betânia, que distava de Jerusalém quase quinze estádios, cerca de
seis quilômetros. Chegou à Betânia quatro dias depois do aviso da irmã de
Lázaro. Muitos judeus consolavam Maria e Marta, pois acreditavam que Lázaro já
estava morto. Marta ao saber que Jesus se aproximava, foi ao encontro do Mestre
para ter com ele, enquanto Maria permaneceu em casa, assentada.
Marta diz a Jesus que se o Mestre
estivesse ali, seu irmão não teria morrido. Maria parece repreender Jesus não
compreendendo por que o rabi não viera o quanto antes curar Lázaro.
Marta, porém, ainda crê que se Jesus
rogar a Deus, Lázaro tornará a vida. Jesus confirma: “Teu irmão há de
ressuscitar”. Marta não compreende e acredita que Jesus se refere a
ressurreição do último dia, conforme a crença judaica.
Jesus transmitia mais uma lição
afirmando ser ele a ressurreição e a vida, e que aquele que crê ainda que
esteja morto viverá, e aquele que vive e crê, nunca morrerá.
Há morte em vida, e há vida na morte.
Jesus chamou em segredo Maria, que se
levantou e foi falar com o galileu. O Mestre ainda não chegara à aldeia de
Betânia, mas Maria avistando-o, lançou-se aos seus pés lamentando, repetindo a
Jesus, tal como Marta, que se o rabi estivesse ali, Lázaro não teria morrido.
Jesus se comove. Observa o desespero
da irmã de Lázaro, que chorava intensamente. Também choravam os judeus que
acompanharam Maria, e que agora estavam diante do rabi. Jesus rememora a cena,
em que a mesma Maria ungia e enxugava o Mestre, amorosamente, com um zelo religioso,
usando os próprios cabelos, véu da vaidade e formosura femininas, para secar os
seus pés.
Naquele instante tinha novamente a
irmã de Lázaro enlaçada nos seus pés. Não era mais a alegria, o contentamento
que se expressava no semblante de Maria, como foi quanto outrora o servira.
Maria, agora, chorava sem esperança, chorava a dor da perda, a saudade, a
ausência...
De que adiantava, pensaria Jesus,
falar-lhes sobre o reino dos céus, se tudo o que queriam naquele momento era o
consolo, o alento da providência divina? Não viera ele para apaziguar o coração
humano, cansado da precariedade da vida, que lhes escapava do corpo em que foram
sepultados, e cuja morte os separavam sem aviso?
Jesus exerceu a alteridade. A
capacidade de sentir com o outro.
A dor de Maria, naquele momento era a
sua dor. Ao enlaçar os seus pés, a irmã de Lázaro formava um só corpo com
Jesus. E o rabi a incorporara. Jesus e Maria se comoviam num mesmo pulsar de
alma.
Era chegado o momento. Jesus pergunta
onde estava Lázaro. E disseram-lhe: “Vem, e vê”. Era a senha aguardada. Jesus
materializaria aos olhos humanos a vitória da vida sobre a morte.
Jesus chorou.
Constatam os judeus: “Vede como o
amava”. Crendo que Jesus chorava por Lázaro.
Tomado de profunda emoção pelo
episódio que atravessaria os séculos e marcaria a tradição cristã, o rabi pede
para que retirem a pedra do sepulcro de Lázaro.
Levanta os olhos para o céu, agradece
a oportunidade de manifestar o poder divino diante dos homens, carentes de
provas visíveis da fé, e exclama em alta voz:
- Lázaro, sai para fora.
Para espanto geral, Lázaro sai. Mãos
e pés ligados com faixas, e o rosto envolto num lenço. Desenfaixado e desperto,
Lázaro tornou a vida.
O episódio de Lázaro não foi somente
o milagre da ressurreição acima da morte.
Na ressurreição de Lázaro temos a
integração de Jesus com a humanidade, representada por aqueles aflitos judeus
que choravam a ausência de um irmão, de um amigo. As lágrimas da aflição
desaguaram no mesmo leito das lágrimas da compaixão e da esperança.
No inesquecível dia em que Jesus
chorou.
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