“... semelhante ao fermento, que uma mulher tomou e escondeu em três
medidas de farinha, até ficar toda ela levedada”.
(Mateus, 13; 33 – Lucas, 13; 20-21.)
Sob o calor das provações o homem renova-se impulsionando a história.
O
monge agostiniano levava a sério a sua vocação. Difícil e penoso foi o caminho
de afloramento da sua alma.
Lutero
era meditativo, austero, melancólico e dedicado ao estudo dos seus autores
prediletos e da Bíblia.
Não
seria no claustro, no entanto, que encontraria a paz interior que procurava.
Orava, jejuava, mas não conseguia se libertar das angústias íntimas e das
questões de consciência que o perturbavam.
Staupitz,
sacerdote, seu amigo e conselheiro dizia para consolá-lo:
“De
minha parte, prometi a Deus, mais de mil vezes, ser melhor, e ainda não cumpri
minha promessa”.
A
alma atribulada do noviço confortava-se ao ouvir a humilde confissão do amigo.
Aquietava-se por algum tempo, porém Lutero se afligia pela incerteza da sua
salvação. Duvidava que as práticas religiosas resolvessem esta questão.
Terminou
o noviciado, fez os primeiros votos e aceitou as vestimentas da Ordem. Tornar-se-ia,
por fim, um homem novo?
Cumprindo
uma praxe do Cristianismo primitivo, o noviço recebia a imposição de mãos. Na época
apostólica, este gesto, conferia ao receptor a ativação dos dons espirituais,
caso fosse o caso, porém, agora se reduzia tão somente a um rito simbólico,
vazio e automático. Com um círio aceso, a cerimônia se encerrava com a
invocação do Espírito, num hino chamado Veni
Sancte Spiritus. Para encerrar o jovem recebia de todos os irmãos o ósculo
(beijo) cristão.
Após
o encantamento das primeiras horas da ordenação, que representaram uma curta
trégua íntima, Lutero viu recomeçarem suas dúvidas e angústias. Onde
encontraria a paz?
-
Eu era – diria Lutero – o homem mais miserável da Terra. Dia e noite, somente o
desespero e o lamento me faziam companhia, e ninguém poderia fazer algo por
mim, porque eu não conhecia Jesus Cristo, quer dizer, eu o temia. Via-o como um
severo juiz de quem procurava fugir sem, contudo, jamais conseguir.
Este
episodio da vida de Martinho Lutero (1483-1546), expõe a fragilidade do então
monge agostiniano, atormentado por duras provas morais.
É
fácil, no entanto, nos identificarmos com suas angústias. Quando desperto para
as realidades do Espírito, o homem sofre intensamente por suas limitações
frente aos horizontes de uma nova vida que se desenrola às suas vistas, sem que
possa identificá-la com a clareza desejada.
A
fé carece do respaldo de suas inseparáveis companheiras: a esperança e o amor.
Paulo,
o apóstolo de Tarso, confirma esta realidade em I Coríntios 13; 13: “Agora,
pois permaneçam a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior é o amor”.
Em
uma de suas parábolas Jesus compara o seu Reino ao fermento que uma mulher
tomou, e escondeu em três medidas de farinha, até ficar toda ela levedada.
Fermento
= Reino dos Céus (Paz de espírito);
Mulher
= ser humano, a massa do Reino;
Três
medidas = Fé, Esperança e Amor.
Esta
é a receita da Autorrealização humana. Sob o calor das provas, a massa da razão
e do sentimento é submetida à levedura. Escondida, num primeiro momento, a
substância do Reino em nós, chama-se Consciência. Aflorada, em vigília, ela
ofertará o pão que sacia a fome das multidões.
O
autoencontro não se dá no claustro. É na ceia que o pão é partilhado.
E
por quem leveda a massa?
OBS: Citação biográfica sobre Martinho Lutero escrita com base em relatos do livro "As Marcas do Cristo", de Hermínio Côrrea Miranda, Editora FEB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário