domingo, 4 de novembro de 2012

A MÃO


 
(NA ESCADARIA DE UMA CIDADE QUALQUER)
 
 
 
 
 
 
 
 
A mão espalmada ao ar...pede
 
Degrau pós degrau sinto-a distante
 
Vou subindo,
 
não indiferente: relutante
 
 
A mão espalmada ao ar...pede
 
Passam pernas,
 
por ela, apressadas
 
Sobem, descem as escadas
 
 
Espalmada, a mão pede
 
Não cede,
 
não esquece,
 
não desaparece...
 
 
A mão espalmada ao ar...pede
 
Respiro cheiro familar, no ar
 
Carne humana servida
 
 em cada esquina ao Deus-dará
 
 
A mão espalmada ao ar...pede
 
Nos outdoors as luzes são luxo
 
Na escada, sentada, quase imóvel
 
A mão... pede
 
 
No lixo, na praça,
 
na escadaria, portaria
 
Quase extática,
 
quase viril, quase viva
 
 
A mão espalmada ao ar...pede
 
Cede,
 
esquece,
 
desaparece...
 
 
 
 
NOTA DO AUTOR:
 
 
A indiferença social como violenta forma de exclusão humana. O texto acima denuncia a omissão da sociedade civil perante o próximo, tratado como distante ou ausente, por não enquadrar-se no sistema-modelo adotado.
 
A "mão" é símbolo do pedido, do apelo deste incômodo solicitante que, por vezes, bate a nossa porta, ou ousa nos parar na via pública, para nos lembrar sua existência.
 
A "mão" que pede e apela por sobrevivência é a mesma mão que acolhida pela dignidade do trabalho e da instrução produz o cidadão consciente.
 
Nas malhas do ventre da mãe cidade é tecido o amanhã dos anônimos transeuntes. Somos parte integrante desta roupagem, cuja tessitura veste a justiça social. 
 


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