(NA ESCADARIA DE UMA CIDADE QUALQUER)
A mão espalmada ao ar...pede
Degrau pós degrau sinto-a distante
Vou subindo,
não indiferente: relutante
A mão espalmada ao ar...pede
Passam pernas,
por ela, apressadas
Sobem, descem as escadas
Espalmada, a mão pede
Não cede,
não esquece,
não desaparece...
A mão espalmada ao ar...pede
Respiro cheiro familar, no ar
Carne humana servida
em cada esquina ao Deus-dará
A mão espalmada ao ar...pede
Nos outdoors as luzes são luxo
Na escada, sentada, quase imóvel
A mão... pede
No lixo, na praça,
na escadaria, portaria
Quase extática,
quase viril, quase viva
A mão espalmada ao ar...pede
Cede,
esquece,
desaparece...
NOTA DO AUTOR:
A indiferença social como violenta forma de exclusão humana. O texto acima denuncia a omissão da sociedade civil perante o próximo, tratado como distante ou ausente, por não enquadrar-se no sistema-modelo adotado.
A "mão" é símbolo do pedido, do apelo deste incômodo solicitante que, por vezes, bate a nossa porta, ou ousa nos parar na via pública, para nos lembrar sua existência.
A "mão" que pede e apela por sobrevivência é a mesma mão que acolhida pela dignidade do trabalho e da instrução produz o cidadão consciente.
Nas malhas do ventre da mãe cidade é tecido o amanhã dos anônimos transeuntes. Somos parte integrante desta roupagem, cuja tessitura veste a justiça social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário