domingo, 14 de abril de 2013

PEIXES NA REDE




“... semelhante a uma rede que foi lançada ao mar e apanhou peixes de toda espécie: e depois de cheia os pescadores puxaram-na para a praia...”.

 (Mateus, 13; 47-50.)
 

A parábola da rede exemplifica as diferenças e similitudes humanas.
 
Era dia 13 de junho. O ano: 1654. Na cidade de São Luis do Maranhão, o Padre Antonio Vieira profere, em homenagem a Santo Antonio, o célebre Sermão dos Peixes. Em dado momento, ensina: “Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só coisa pudera desconsolar ao pregador, que é serem gente os peixes que se há de converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje em céu nem em inferno: e assim será menos triste este sermão... (...) Quando Cristo comparou a sua Igreja à rede de pescar, diz que os pescadores recolheram os peixes bons, e lançaram fora os maus. E onde há bons e maus, há que louvar e que repreender.”
 Quais os peixes são os homens... Ao menos em parte!   
Das criaturas viventes e sensitivas foram os peixes os primeiros da criação: “E Deus criou as grandes baleias...” (Gênesis, 1: 20). No entanto deu ao homem a supremacia: “... Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar...” (Gênesis 1: 26).
Virtudes dos peixes: obediência, quietação e atenção. Louvemos os homens peixes. Assim ouviram as palavras de Antonio como se entendimento tivessem, entendimento que não tinham.
Quem olhasse para a terra, naquele momento, e se voltasse depois para o mar, confuso estaria. Pois, os homens furiosos e obstinados devoravam-se, e os peixes, quietos e atenciosos ouviam. Teriam os peixes, irracionais, se convertido em homens, e os homens em feras? Nos homens estava presente a razão sem o uso e nos peixes o uso sem a razão. Vieira, tão bem observou esta verdade!
Quais os peixes são os homens... Ao menos em parte!
Vícios dos peixes: entre devoram-se, são cegos, ignorantes pelo instinto e metidos a valentes. Repreendamos os homens peixes.
Peixes maiores alimentam-se dos menores, há mesmo àqueles que reunidos atacam impiedosamente, até mesmo o homem! Vejam só!
Cegos para o perigo e ignorantes para as palavras que ouvem atenciosamente, não titubeiam ao buscar na isca o alimento, movidos pelo instinto, mal percebem que por ele são capturados. Ah, como seus vícios nos são semelhantes...
A rede lançada ao mar traz consigo toda qualidade de peixes. Mas, Cristo pede aos pescadores que os selecionem. Bons vão para o cesto. Maus são lançados fora.
A rede da parábola permanece armada. Os peixes ainda são puxados para a praia. E a seleção, de acordo com a qualidade de cada peixe, é cada vez mais rigorosa.
Ora pescamos, ora somos fisgados. E em tudo, o Divino Piscicultor prepara uma nova terra e um novo mar.
 
Quais os peixes são os homens... No todo, e em cada parte!




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