domingo, 15 de julho de 2012

PERFUME FEMINIL

(A uma passante)















O laço abraça augusta senhora
enroscada ao alarde da última hora
Ouve-se a valsa, ausente surdina
transpõe ao cântaro: água cristalina

Pelo salão ecoa um lúgubre canto
a dançarina emerge em visão retilínea
Cobrindo seu corpo um rosado manto
compõe a paisagem a noite fria

Seus olhos são harpas de doce melodia
seus lábios, o bálsamo do guerreiro convalescente
Suas mãos acariciam a solene poesia
seu rosto, o fulgor do sol nascente

Amarei tão somente o delírio idealizado
Reconheço a perfídia do amor entronizado
A dor do apreço, o peito dilacerado

Portões erguidos, janelas fechadas...
A senhora sorriu e partiu luminosa
Deixando na mente a lembrança formosa 



NOTA DO AUTOR:

Texto inspirado nos célebres versos do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), em poema intitulado "A uma passante", publicado na obra "As flores do mal".

Reproduzimos a seguir, de forma parcial, o poema:

"A rua em derredor era um ruído incomum,
Longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;"

(...)

"Um relâmpago e após a noite! - Aérea beldade,
E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei, um dia e já na eternidade?"

"Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado - e o sabias demais!"

Fragmentos do olhar do autor sobre a imagem idealizada do amor que insinua-se em breves reflexos espelhados. Amor que canta a impossibilidade de vivê-lo, convertendo-se no prazer em apreciá-lo.


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