(A uma passante)
O laço abraça augusta senhora
enroscada ao alarde da última hora
Ouve-se a valsa, ausente surdina
transpõe ao cântaro: água cristalina
Pelo salão ecoa um lúgubre canto
a dançarina emerge em visão retilínea
Cobrindo seu corpo um rosado manto
compõe a paisagem a noite fria
Seus olhos são harpas de doce melodia
seus lábios, o bálsamo do guerreiro convalescente
Suas mãos acariciam a solene poesia
seu rosto, o fulgor do sol nascente
Amarei tão somente o delírio idealizado
Reconheço a perfídia do amor entronizado
A dor do apreço, o peito dilacerado
Portões erguidos, janelas fechadas...
A senhora sorriu e partiu luminosa
Deixando na mente a lembrança formosa
NOTA DO AUTOR:
Texto inspirado nos célebres versos do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), em poema intitulado "A uma passante", publicado na obra "As flores do mal".
Reproduzimos a seguir, de forma parcial, o poema:
"A rua em derredor era um ruído incomum,
Longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;"
(...)
"Um relâmpago e após a noite! - Aérea beldade,
E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei, um dia e já na eternidade?"
"Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado - e o sabias demais!"
Fragmentos do olhar do autor sobre a imagem idealizada do amor que insinua-se em breves reflexos espelhados. Amor que canta a impossibilidade de vivê-lo, convertendo-se no prazer em apreciá-lo.
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