Não cantarei donzelas formosas
Não anunciarei o profeta ascético
Não colherei nem lírios, nem rosas
Não chorarei o triste pretérito
A negação proposta, legítima
revela alarmes delirantes
A retórica formal, analítica
oculta abismos inquietantes
Sois deuses em pequenos mundos
Pulsa o gênio em minhas veias
Vulgarmente adiciono segundos
Desejo a emersão de belas sereias
O mar que naufraga meu barco invasor
sepulta navios: mordaz tribulação
O vago clarão no horizonte da dor
avista esperança, desejo e ilusão
Ancorarei na ilha desértica,
melancólica viagem
Acamparei minha dialética:
nobreza e saudade
NOTA DO AUTOR:
"Navegar" é condição para viver.
No barco do pensamento velejamos em direção ao destino outrora preparado e atualmente construído.
As negativas do texto: "não cantarei..., não anunciarei..., não colherei..., não chorarei", demonstram um anseio da voz lírica de defender-se das imagens externas que poderiam influenciar o seu autodescobrimento. O que importa são as manifestações internas espontâneas, não viciadas pelo olhar do homem-mundo.
Ao final o que resta é a franca intenção de retorno às origens.
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