domingo, 29 de julho de 2012

BALADA AOS NAVEGANTES

















Não cantarei donzelas formosas
Não anunciarei o profeta ascético
Não colherei nem lírios, nem rosas
Não chorarei o triste pretérito


A negação proposta, legítima
revela alarmes delirantes
A retórica formal, analítica
oculta abismos inquietantes


Sois deuses em pequenos mundos
Pulsa o gênio em minhas veias
Vulgarmente adiciono segundos
Desejo a emersão de belas sereias


O mar que naufraga meu barco invasor
sepulta navios: mordaz tribulação
O vago clarão no horizonte da dor
avista esperança, desejo e ilusão


Ancorarei na ilha desértica,
melancólica viagem
Acamparei minha dialética:
nobreza e saudade



NOTA DO AUTOR:


"Navegar" é condição para viver.

No barco do pensamento velejamos em direção ao destino outrora preparado e atualmente construído.

As negativas do texto: "não cantarei..., não anunciarei..., não colherei..., não chorarei", demonstram um anseio da voz lírica de defender-se das imagens externas que poderiam influenciar o seu autodescobrimento. O que importa são as manifestações internas espontâneas, não viciadas pelo olhar do homem-mundo.

Ao final o que resta é a franca intenção de retorno às origens.


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